segunda-feira, outubro 29, 2007

A epifânia #2

"Gostava de lhe ter respondido a verdade, em vez de gaguejar palavras sem nexo. Nunca fiquei tão sem palavras. Penso muita vez como seria se eu tivesse dado a resposta certa. E qual seria resposta certa. Não sei.

Gostava que soubesses tudo o que penso. Não por ter expectativas que isso mudasse alguma coisa. Estou preso num mundo demasiado fechado para querer saber. Não me interessa o que pensas.
Só gostava que soubesses.

Só gostava de saber porquê. De ter uma explicação. Não a procuro, mas gostava que ela viesse ter comigo. "
sábado, outubro 27, 2007

A epifânia

"Gostava de lhe conseguir dizer "vai-te foder". Gostava de lhe conseguir dizer "desaparece e deixa de falar comigo". Assim, como está escrito, sem problemas, sem rodeios. Gostava de a largar. Com palavras duras que são as que melhor revelam o que se sente. Gostava de não gostar. Gostava mas não consigo.

Não lhe consigo dizer, directamente, estas palavras. Por isso, venho dize-las no meu blog. Coisa inútil. Faço-o porque não passo de um fraco cobarde escondido numa personalidade indiferente. Faço passar uma imagem diferente das coisas que realmente me afectam. A minha personalidade não combina comigo. Faz-me ignorar e descartar coisas que me queimam a mente. Faz-me ser uma pessoa diferente daquilo que realmente se passa no núcleo. Estou certo que perco muita coisa em ser assim. Já perdi. Já não me chateia. Vivo conformado com a situação. Apenas tenho momentos como este em que, olho para trás e sei que dava a alma para voltar e dizer as coisas de forma diferente. Gostava de lhe ter respondido a verdade, em vez de gaguejar palavras sem nexo.

Da ultima vez que deixei a personalidade de fora, escrevi um email.
Não sei, nem quero saber, se me valeu de alguma coisa. Não me interessa.
Sei que tive um puro momento de descargo de consciência. Não pedi desculpa de nada. Não me justifiquei de nada. Não o fazia outra vez, mas não me arrependo.
Esse email valeu-me um mundo.

Eu gosto muito de acreditar que não preciso de ninguém. Mas há pessoas das quais eu preciso. Nunca o vou admitir. Não me importa se elas sabem ou não, se lhes faz diferença ou não.
Sei que provavelmente as vou perder devido a asneiras que vou fazer.
É inevitável. Eu sou assim.

De tempos a tempos, tenho momentos destes, em que perco a personalidade e penso nas coisas como de facto elas são. Inúteis momentos.
"


quinta-feira, outubro 25, 2007

Os carros

Já tentei muitas vezes explicar o motivo porque gosto de carros. Muitas vezes não consegui.
Provavelmente, meio mundo gosta de carros. Homens então, devem ser quase todos.

Mas acho que o meu motivo é diferente, eu não me apaixono pelo carro como um todo.
Não sinto paixão pelo carro mas antes pela engenheira nele envolvida.
Gosto das partes moveis. Gosto de me lembrar de como tudo gira a uma velocidade enorme e, ainda assim, tudo se move em sintonia. Das forças envolvidas como a da maxila no disco, a quando de uma travagem.
Soa a algo banal e até insignificante, mas eu gosto de como tudo se move em harmonia. Toda a peça, por mais pequena que seja, a fazer o seu papel. Quase que posso fazer uma frase poética e dizer que gosto de ver que um motor continua a trabalhar minuto após minuto...

Gosto do barulho. Não porque é alto ou baixo ou agressivo ou suave. Gosto porque consigo ouvi-lo a falar comigo. A dizer-me se está a trabalhar bem ou mal.


Não gosto de carros como um todo. Não gosto carros por fora. Não me diz nada.
Gosto do que está escondido, das coisas em que "ninguém" pensa. Gosto de tudo o que está entre o pedal e as rodas, que é o que realmente faz com que ele se mexa. Como já disse, gosto da engenheira neles envolvida.


Nota final: Da forma como está escrito, isto parece uma visão muito platónica e apaixonada da coisa. Mas não é. De facto, eu não consigo entender as pessoas que desenvolvem amores platónicos pelos carros. Gosto deles, mas não é nenhum amor incondicional.
sábado, outubro 20, 2007

Noutro dia...

Noutro dia, estava eu a dormir quando toca o despertador.
Diz o senhor da rádio que está um temporal imenso por todo o país.
Chuva, vento, inundações, coisa digna de um fim de mundo.
Saio da cama, abro a persiana e denoto que sol raia pelo quarto e os passarinhos voam pela rua em ambiente primaveril de contos de fadas.
Minutos mais tarde, m.v. toca à campainha.
Vou à varanda e conto a história do temporal vs sol, acrescentando no fim o habitual "Desço já".
Ao ouvir a história m.v. exclama entre risos, ainda que sarcasticamente, "Grande vida a nossa an!"
Desço e sigo no carro com m.v. para apanhar o barco.
Pelo o caminho sucedem-se piadas sobre o mau tempo que não vemos, acompanhadas de gargalhadas de quem vive as tais "grandes vidas".
Gargalhadas que disfarçam e camuflam as coisas que me faltam, que eu sinto falta.
Estou certo que, pelo menos algumas, de m.v. têm o mesmo propósito.
É um gajo que me compreende. Tarefa complicada.
Grandes vidas as nossas?
terça-feira, outubro 02, 2007
"Elogios não me elevam, críticas não me afectam, sou o que sou e não o que acham"

Esta frase é uma merda tão estúpida que eu vou me dar ao trabalho de a repartir em três partes e explicar o porque.

Parte 1
"Elogios não me elevam"
Ninguém é imune a elogios. As pessoas podem ligar mais ou menos a elogios, mas toda a gente gosta de ouvir uma "palavra bonita" de vez em quando, mesmo que aparente ignorar, como é o meu caso. Se uma pessoa é elogiada por ter cumprido determinada tarefa, é óbvio que esse elogio vai contribuir para a confiança na execução da mesma, caso ela aconteça mais vezes, logo um elogio eleva.
(Ainda assim, continuo fiel à frase "when you do things right, people won't be sure if you've done anything at all", mas isso é outra história.)

Parte 2
"críticas não me afectam"
É claro que afectam. As criticas, desde que construtivas e fundamentadas afectam qualquer um.
É através das críticas que um pessoa evolui para algo diferente, por vezes melhor. Se não existissem críticas, tudo no mundo era considerado perfeito, logo não havia evolução. Como há evolução, logo, as críticas afectam.

Parte 3
"sou o que sou e não o que acham"
Uma pessoa é o que é, com certeza. Só que por muito que a imagem que uma pessoa tem dela própria seja fruto da sua avaliação, esta avaliação depende sempre das pessoas que as rodeiam.
Se uma alguém vivesse isolado do resto das outras pessoas, seria impossível esse alguém desenvolver uma imagem de si próprio porque não teria termo de comparação.
Por outro lado, uma pessoa acaba sempre por ser um pouco do que os outros acham. Mais não seja pelo facto de vivermos em sociedade e de em muitas situações ser a imagem que os outros têm de nós que prevalece.
Sendo assim, e mesmo após estes argumentos, ainda digo que mesmo que uma pessoa fosse literalmente o que era e não que achassem, ao conviver com outras pessoas ia estar sempre sujeita à imagem que elas tinham dela. Logo, a frase cai em contradição, logo está errada.
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