quarta-feira, janeiro 24, 2007

E a questão do aborto?

Saíndo mais uma vez da linha regular do blog, tenho ouvido por aí nos meios de comunicação muito sobre o aborto.
Sou a favor e votarei de acordo com a minha opinião no referendo que se avizinha. E no entanto acho que este referendo nem se devia realizar, a lei devia apenas já existir à muito tempo, porque se trata de uma simples questão moral que, no caso do sim vencer, não vai afectar quem votou não.
Por exemplo, num eventual referendo acerca da adoção ou não da Constituição Europeia, o seu resultado iria afectar toda a gente. No caso de um hipotético sim ganhar, quem havia votado não, teria de submeter à Constituição Europeia de qualquer maneira. O mesmo não acontece com o referendo ao aborto. Quem votar não, no caso de um sim ganhar, pode continar com as suas convicções e escolher não abortar se um dia for confrontado com essa hipótese.
Ou seja, no caso de o sim ganhar, este resultado não afecta a globalidade da populção, porque nao obriga ningém a nada - ao contrário da situação hipotética de um referendo à Constituição Europeia.
Quem for confrontado com a hipótese de um aborto, pode escolher não o fazer ou faze-lo em segurança e legalmente.

Há muitas mais questões acerca do aborto, mas queria dar foco a uma, um argumento que muito se tem ouvido pelos defensores do não, o de que um aborto vai contra a Natureza, para isso vou citar a opinião de um professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, prof. Vítor Almada.



"(...)Um último argumento que merece comentários por parte de um biólogo como eu, tem que ver com a ideia, difundida recentemente da reprodução como dimanando de uma lei da Natureza.
A Natureza não pode ser fundamento para qualquer moral ou regra de direito. Não há direito Natural. Como animais, os nossos antepassados, assassinaram, foram canibais, praticaram genocídios e o infanticídio ou a morte de idosos e deficientes foi praticada por numerosas culturas. Será por isso legítimo fazê-lo hoje? O absurdo da pergunta é evidente. Só quis mostrar que a Natureza não nos traz ensinamentos morais, nem maus nem bons. Somos nós, sujeitos conscientes e responsáveis, que teremos que definir o que é bem e mal.
No que toca à interrupção da gravidez, muitos animais comem os filhos quando as condições são adversas à reprodução ou a sobrevivência da mãe entra em conflito com a dos filhos. Muitos outros abandonam as crias em caso de fome ou de perigo, mesmo quando não têm qualquer hipótese de sobreviver. Outras espécies, como os coelhos, têm mecanismos para matar e reabsorver os embriões no próprio útero, quando a mãe está em stress. Portanto, o infanticídio, o aborto, o abandono, são frequentes na Natureza. Não será por isso que nós o faremos, mas estes exemplos servem para mostrar que não pode ser na Natureza que vamos procurar os fundamentos das nossas decisões morais, como pretendem alguns. (...)"



Nota:
O autor deste texto deu permissão para a reproduçao do mesmo, desde que este não fosse modificado ou de algum modo alterado no seu sentido.
Não há aqui qualquer intenção de alterar o sentido do texto, e este também nao foi de forma alguma modificado.

O texto integral poderá ser lido aqui, Porque voto sim? Por Vítor Almada, e a sua leitura é recomendada pelo autor desta blog.

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